quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Cocalero & Deserto Feliz





Assisti Deserto Feliz, do Paulo Caldas. Bom filme, com o inconfundível selo pernambucano. Um cinema de grandes ambições. Um cinema sério, refletido, inovador. Pronto. Como dizia Marcelo Nova, do Camisa de Vênus, agora que enchi o hélio de vocês vamos arriar as calçolinhas e vamos lá.


Esta linha "social" do cinema pernambucano está parecendo (viva o gerúndio! abaixo o arruda!) oportunismo e masturbação intelectual. Os cineastas pernambucanos são, de longe, os que possuem uma consciência política mais arrojada atualmente e, por isso mesmo, devem se cuidar para não vulgarizarem essa qualidade em troca de afagos da comunidade crítica e de prêmios pré-pagos. Seus filmes começam a ficar chatos.


Penso nisso há algum tempo. O processo de financiamento e produção de cinema no Brasil está alijando a preocupação com o público. Tá legal, o artista deve ser "fiel sobretudo a si mesmo". Ok, ok. Mas... isso não pode virar senha para filme e para livros pra boi dormir. Eu penso assim. Gosto de Truffaut, Bergman, Antonioni, Godard, mas gosto mais de uns filmes que outros. Gosto menos dos enfadonhos. Naturalmente, tenho meu gosto pessoal. Eu entendo um pouco, dá licença. Gosto dos filmes com diálogos exuberantes, criativos. E com ação. Eisensten, por exemplo, é o máximo. O Encouraçado Potenkin, caralho, é uma das maiores obras-primas da história do cinema mundial. Charles Chaplin fazia mudos ou quase mudos cheios de humor, ação e crítica política. A trama de Marca da Maldade (Touch of Evil) de Orson Welles é magnífica, envolvente e criativa. Não esqueçam de Ao Sul do Meu Corpo, de Paulo Cezar Saraceni.


De qualquer forma, parabéns ao Paulo Caldas por essa contribuição ao cinema brasileiro. Fica registrado o alerta, contudo. A última leva de filmes pernambucanos é toda de prostitutas menores, pobres coitados explorados. Baixio das Bestas, do Claudio Assis, tem uma protagonista similar à de Paulo Caldas, a menor prostituída. O filme de Assis é mais voluptuoso, o de Caldas é mais delicado, com um toque realista mais terrível.


É importante, sobretudo, um enriquecimento literário deste cinema. Os diálogos estão tendendo a um popularesco clichê, caricatural. Colocar personagens falando palavrão já não é transgressão. As tramas precisam ser mais sofisticadas. Invistam em roteiristas!


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Entrem no site, vejam o filme. Cocalero é um dos documentários políticos mais bem elaborados que já assisti. A trajetória de Evo Morales, de líder sindical dos produtos de coca no altiplano boliviano, a uma das maiores lideranças políticas da América Latina. É impressionante a semelhança entre a luta de Morales e a de outras lideranças populares no continente. Sempre com a imprensa nos calcanhares. Sempre lutando contra preconceitos atávicos, terríveis. Evo Morales, sem formação escolar completa, revela-se uma das inteligências mais finas, mais terríveis, de seu país. Não só isso. A generosidade, a vitalidade, a transparência de seus ideais, a franqueza de suas palavras, a força de seu amor pela Bolívia, pelos índios e pelos cocaleros, a riqueza humana de Evo Morales conquista os corações mais duros. Sua vitória nas eleições presidenciais representa um grande marco na história da América Latina. Por isso, acho um absurdo, um crime histórico, a crítica que o Globo, Miriam Leitão, e todos esses lacaios do imperialismo no Brasil, fazem à importância de Morales para a Bolívia e para todos nós. Alguns setores da imprensa chegaram a sugerir que o Brasil agredisse economica e politicamente a Bolívia por causa dos investimentos da Petrobrás no país. Por causa de míseros 200 milhões de dólares. Míseros porque o Brasil faturou muito mais em cima do gás barato boliviano, vendido ao Brasil por menos da metade do preço internacional. Graças a Deus temos o Lula, que não deu ouvidos aos mastins midiáticos. Se desse ouvidos, aliás, só teríamos prejuízo, com corte de abastecimento às indústrias brasileiras e crise econômica e social na Bolívia. Os dois lados sairiam perdendo com esse súbito, inusitado e hipócrita patriotismo pró-Petrobrás de meia dúzia de colunistas furiosos.


Morales é dono de uma personalidade carismática que surge talvez apenas de 50 em 50 anos em cada país. Viva Morales! Viva os cocaleros! Estamos contigo, hermano!


O diretor de Cocalero, Alejandro Landes nasceu no Brasil e criou-se no Equador. Como milhares de intelectuais dessas bandas, que assistiram a um terrível processo de degradação social, política, cultural, universitária e econômica, Landes foi estudar nos Estados Unidos. Não perdeu suas raízes, todavia e o resultado é esse filme lindíssimo, um documentário com o tesão de um thriller político, realizando com humor, técnica magistral, sentido trágico e uma dilacerante paixão pela coragem e heroísmo dos índios bolivianos.


A grande virada no sindicalismo do MAS, Movimento ao Socialismo, partido de Morales, acontece quando recebe, pela primeira vez, apoio dos antigos e poderosos sindicatos mineradores, até então distantes, com seus motivos, da política partidária tradicional. Os mineiros, identificando em Morales um sujeito que representava verdadeiramente seus interesses, e não apenas uma esquerda acadêmica, cedo ou tarde comprada ou banida pelas oligarquias, decidem apostar em sua campanha eleitoral. São sindicatos organizados, decididos. O rosto dos sindicalistas mineiros presentes a uma reunião de campanha, severo, trágico, solene, indica que forças sociais muito profundas haviam se mobilizado para dar vitória a Morales.


É impressionante ainda o registro de populares do estado de Santa Cruz gritando impropérios racistas no aeroporto, no momento em que Morales embarca. Índio imundo! berra um rapaz. Entrevistado rapidamente pelo cinegrafista, o moço diz que o país não pode ser governado por um índio. Isso num país em que mais de 80% da população é índia ou descendente direta!


A entrevista de Morales à uma apresentadora de TV também é emblemática. A moça pergunta porque Morales chamou Chávez de comandante durante um comício anti-neoliberal em Buenos Aires. Morales explica que presidentes são chefes das forças armadas de seus países e, portanto, também podem ser chamados de comandantes. Todo presidente é um comandante.


Chamado a participar de uma conferência militar, Morales enfrenta a alta oficialidade do exército boliviano, todos brancos, de óculos rayban, abanando a cabeça irritadamente, com uma impaciência carregada de preconceito, brutalidade e reacionarismo. Uma repórter pergunta se ele respeitará a hierarquia das instituições militares. Morales responde, altivo, que, eleito presidente, as instituições militares é que terão que responder a ele, porque o presidente é o chefe do exército.


O longa tem cenas impagáveis, como quando Morales mostra foto dele mesmo junto com Fidel e Chávez e diz ao cinegrafista: el eje del mal, cuidate hermano! Também é ótima a cena de Chávez em Buenos Aires, vociferando "Alca al carajo!" e sendo ovacionado por dezenas de milhares de pessoas.


Enfim, é um belíssimo filme, que deveria ser exibido em universidades, escolas, sindicatos, por todos que desejam conhecer, sem o filtro ideológico e preconceituoso de nossa mídia, a apaixonante dinâmica política de nosso vizinho.

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Notas de um escândalo

Sérgio Malandro virou filme. O curta A ópera do Malandro que estreou na segunda-feira deu uma sacudida nos ânimos do público lá presente. Eu não vi o filme e provavelmente não verei. Nunca gostei de Sergio Malandro. Cheguei para sessão do primeiro longa de Bruno Safadi. O que me espantou foi ver uma grande parte da platéia que assistiu ao curta ir embora antes do longa. Será que fazemos cinema por gostar? Ou por fama ou dinheiro? Os que foram embora era parte da plátéia midiática que foi prestigiar o velho Malandro. É interessante em momentos como o Festival do Rio, onde temos a oportunidade de assistir filmes do mundo inteiro no cinema e que provavelmente não entrarão em cartaz, ver que uma galera que trabalha com cinema não está nem aí para isso. Vem e vão por puro marketing.

Quem não assistiu ao longa do Safadi, Meu nome é Dindi perdeu um execelente primeiro longa de um cineasta de verdade. Quanto ao curta A ópera do Malandro, esse título me incomoda, é referência boa demais para uma pessoa desprezível, o velho Malandro.

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Cinema, china e rew!

Serei repetitiva. Esse ano o país homenageado no festival é a China. Para mim a mostra Foco China é uma das melhores. As sessões não estão lotadas mas existe um público fiel que tem comparecido todo fim de tarde para assistir aos clássicos do gigante oriental. A primeira semana ficou com a exibição das histórias de amor a lá Marcel Carné filmadas na década de trinta. A influência do cinema francês de Carné e René Clair são nítidas nos planos, trilha sonora e estrutura da narrativa.

Nessa segunda semana de festival as exibições estão sendo pautadas por temas políticos, como pobreza ou o processo de independência da China durante a década de 40. Lindo também. São filmes ricos, a imagem é um pouco precária, afinal são filmes antigos e que ainda, acredito, não foram restaurados. Mas o roteiro e os diálogos e os personagens valem uma aula para um aspirante a cineasta.

Está sendo repetitivo. Era para ser um novo post. Mas preferi continuar sem cortes. Ontem foi a vez de Deserto Feliz de Paulo Caldas estrear no Palácio. O filme, que participou de vários festivais internacionaise e ganhou seis Kikitos no Festival de Gramado, era aguardado com certa expectativa. O diretor Paulo Caldas fez estréia em longa com o filme Baile Perfumado que dirigiu ao lado de Lirio Ferreira. E mais tarde realizou O rap do pequeno príncipe contra as almas sebosas, um excelente documentário sobre a periferia de Recife. Caldas que faz parte do grupo de cineastas da chamada retomada, com um estilo ousado caiu no gosto do público jovem e cinéfilos. Porém o filme apresentado ontem, Deserto Feliz, apesar do cuidado estético e beleza visual desanima o espectador sedento por novidade. Ao apresentar o filme, Caldas citou um outro cineasta que descontruiu a idéia de que fazer cinema é glamuroso, tomando para si próprio essas palavras e deixando claro que esse é o seu objetivo ao fazer cinema e que queria mostrar para o público o lado real da sociedade.

A história: uma adolescente de 15 anos após ser violentada pelo padrasto resolve cair na vida se prostituindo(vale destacar o execelente trabalho da jovem atriz Nash Laila que está perfeita na pele da personagem), a menina vai para Recife e num lugar de prostituição conhece um alemão que a leva para Alemanha. A garota se fode. O filme é uma história de amor, vivida por uma prostituta menor de idade e por trás dessa história entra a crítica ou não, ao problema da prostituição infantil, e mais por trás ainda é desenvolvida a "história de apoio" sobre o tráfico de animais.

O cansativo e repetitivo é essa mesma história que foi tema no ano passado de três ou quatros filmes nacionais. Quando não é a favela, a periferia, é a prostituição infantil, o sertão. Não falo isso por não gostar desses temas. Muito pelo contrário, por me interessar já assisiti tantos filmes sobre, que hoje estou cansada. Falo isso por acreditar que cinema enquanto arte também é lugar da ousadia estética, da criatividade, de tramas bem boladas, da maneira como se conta, de literatura visual. E quando a gente entra numa sala de cinema e assiste a mesma história, contada a mais de quarenta anos pelo cinema nacional, a sensação de cansaço é imediata. Surgem questões do tipo, esse filme ajudará realmente alguma coisa no processo de mudança da sociedade? É necessário dez filmes sobre a mesma coisa, quanto mais melhor? Ou faltam roteiristas, criatividade e diversidade no cinema brasileiro?

Aí você entra numa sessão de meia-noite e assiste ao filme Ainda Orangutangos de Gustavo Spolidoro. Então, você sai do filme vendo uma luz no fim do túnel do cinema nacional e com algumas perguntas respondidas e o desejo de ver cinema saciado.

domingo, 30 de setembro de 2007

A nossa China

O país homenageado este ano pelo Festival é a China. Tenho investido bastante nos clássicos chineses da década de 30 e 40 que estão sendo exibidos nos cinemas da Caixa. Já assisti três filmes. Ontem fui assistir um de 1948. Conta a história de moradores de um prédio cujo proprietário é um alto funcionário do governo chinês. Estamos ao final da II Guerra. Os revolucionários de Mao avançam nas grandes cidades. Interessante observar como a China tinha problemas de corrupção, fome. Os governos que precederam a revolução praticavam a censura. Nunca houve liberdade de imprensa na China. Esses filmes nos permitem perspectivas históricas menos preconceituosas. Nesse tempos de macarthismo kameliano, os filmes chineses nos revelam um país que vinha sendo sistematicamente destruído, saqueado, humilhado, roubado, por ocidentais, de um lado, e pelos japoneses, de outro. Foi Mao-Tsé-Tung que colocou a China de pé e libertou-a do jugo estrangeiro. Os colossais erros do regime comunista não apagam a sua necessidade histórica. Olhando a China de hoje, crescendo a taxas espetaculares, produzindo uma classe média já superior numericamente a população inteira do Brasil, não podemos deixar de comparar o destino da China com de outras regiões do planeta, como oriente médio, África e América Central. O chinês de hoje tem orgulho de seu país. Os problemas de liberdade ainda são graves. Mas é diferente uma liberdade num país de 1,5 bilhão de habitantes do que a liberdade na Bélgica, com 6 milhões, ou mesmo na França, com 60 milhões.

Enfim, o importante é que esses filmes chineses, pré-revolucionários, já apontam, por parte da intelectualidade chinesa, uma sensibilidade social e política altamente avançada, e mostram problemas próximos também a nós, brasileiros, porque são problemas humanos, universais. A China também é nossa.

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Impressionante mesmo a polêmica criada pelo filme Tropa de Elite, de José Padilha. Hoje o Segundo Caderno do Globo traz uma análise geral da relação do cinema com ideologias, inconscientemente ou não por parte de diretores. O texto de Carlos Reichenbach é interessante, mas confuso e contraditório. Interessante porque cita muitos filmes e diretores, associando estes ou aqueles à "direita" ou "esquerda". Segundo Reichenbach, clássicos como Apocalipse Now (Coppola) e Taxi Driver (Scorcese), por exemplo, seriam de "direita", e mesmo assim são obras magníficas. Eisensten teria feito filmes sob encomenda para o governo comunista russo e mesmo assim revolucionou a sétima arte.

Enfim, tudo para dizer que Tropa de Elite é de direita, mas é bom. Discordo veementemente dessa interpretação chulé. Cinema é cinema. É uma obra de arte complexa que, naturalmente, comporta ideologias. Ingenuidade querer filmes completamente despidos de ideologia. Mas o que interessa num filme é o seu resultado estético. Uma boa obra de arte é sempre aberta, permitindo visões díspares e até contraditórias. Tropa de Elite é uma história contada sob o ponto-de-vista de um policial. Ponto final.

Reacionário? Prega a violência? AHAHAHAHA. Cara de pau dizer isso, diante da profusão de milhões de filmes holiwoodianos, exibidos diuturnamente pelos canais de tv aberta e nos cinemas, com muito mais violência gratuita. Sem contar os filminhos propaganda do exército americano, mostrando sempre árabes maus e americanos bonzinhos. Vou te contar uma coisa. Eu assisto tudo. Me divirto até com enlatado, mas sei muito bem o perigo que corro, assim como o faço quando bebo uma caipirinha.

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Primeiro longa de Marcos Jorge não deu azia

Ao contrário, Marcos Jorge conseguiu produzir um excelente entretenimento, com pitadas de suspense. Em alguns momentos, os diálogos me pareceram artificiais, com palavrões ditos com ênfase exagerado, mas a trama envolvente abafam esses defeitos e apaixona o público.

Voluptuoso, com bastante ação, narrativa simples e contendo um interessante didatismo culinário, o filme promete despertar bastante interesse no Brasil. Não necessariamente no cinema, mas com certeza no DVD e na televisão.

O ator João Miguel, mais uma vez, assumiu uma grande responsabilidade. Sem ele não haveria Estômago. Assim como o levantar de sobrancelha do Bogart tornou-se uma das imagens mais expressivas de Holliwood nos anos 40 e 50, os trejeitos de Miguel já são patrimônio do cinema nacional.

Construindo a narrativa em dois tempos, mas de forma simples e linear, Jorge inventou um personagem tão marcante que não me espantaria se o filme tivesse uma continuação. Duvido, porém, que o autor tenha essa intenção.

A trilha sonora é boa e a participação especial de Paulo Miklos, impagável. O filme peca, repito, por uma certa leviandade nos diálogos e na interpretação dos atores. O roteiro, no entanto, é muito inteligente, com toques de terror e suspense contrastando com a voluptuosidade divertida das imagens, mostrando influência de Hitchcock.

domingo, 23 de setembro de 2007

Para sempre orangotangos

Ainda Orangotangos, de Gustavo Spolidoro, merece um brinde especial. Pela honestidade, pela técnica, pela trilha sonora, pela maestria em costurar tantas histórias sem se confundir, ou melhor, produzindo uma confusão belíssima, portoalegrense, cosmopolita, universal. Coroa e junkie rolam no tapete da sala, cheios de vida, amor, eufóricos de liberdade, bebendo perfume. Gordo psicótico aborda senhor de bengala, forçando-o a segurar enorme maço de papéis - originais de seu livro. Isso é lixo, diz o velho, que é convidado para festinha de quinze anos, onde se desenrola cena inusitada: homem portando granada ameaça a todos e grita para a aniversariante. JÁ ESQUECEU QUEM TIROU SEU CABACINHO!

Baseado em contos de Paulo Scott, o primeiro longa-metragem de Spolidoro mostra uma Porto Alegre viril, trágica e esquizofrênica. Uma panela de pressão no interior da qual fervem ambição, gênio, violência e japoneses desesperados. Mas, bah!, o feijão é muito bom. É brasileiro, guria. Tribrasileiro.

sábado, 22 de setembro de 2007

Manual para estragar bons livros

Em Nome Próprio, o diretor conseguiu pegar os bons textos de Clarah Averbuck e fazer um pastelão tosco e gaguejante. Os diálogos fracos se conjugam com uma fotografia enjoada e uma trilha sonora debilóide. O recurso de aplicar textos à tela poderia ser interessante se Murillo Salles se preocupasse, no mínimo, em não parecer um estudante de primeiro período experimentando novo software.


Leandra Leal não convence como bebedora de vodka, mas tem o mérito das únicas coisas boas do filme. A cena do escândalo no bar, o surto de bolinha no prédio, a transa com o rapaz de Ribeirão Preto, entre outras, são excelentes. O trabalho de corpo da atriz, que emagreceu bastante, também merece elogios.

Cito outras qualidades. A captação de som ficou boa. Cada gesto, mesmo os mais ínfimos, tem o som hiper-ampliado, conferindo-lhe um peso diferente. Esse minimalismo pareceu-me sagaz e coerente com a proposta da história.

O que me pareceu mais triste, porém, foi o profundo desacerto entre a vitalidade explosiva dos textos originais, e o formato cansado, senil, do filme. Não fosse Leandra Leal uma atriz com imenso poder de atração midiática, a obra ficaria alijada completamente do público jovem.