Serei repetitiva. Esse ano o país homenageado no festival é a China. Para mim a mostra Foco China é uma das melhores. As sessões não estão lotadas mas existe um público fiel que tem comparecido todo fim de tarde para assistir aos clássicos do gigante oriental. A primeira semana ficou com a exibição das histórias de amor a lá Marcel Carné filmadas na década de trinta. A influência do cinema francês de Carné e René Clair são nítidas nos planos, trilha sonora e estrutura da narrativa.
Nessa segunda semana de festival as exibições estão sendo pautadas por temas políticos, como pobreza ou o processo de independência da China durante a década de 40. Lindo também. São filmes ricos, a imagem é um pouco precária, afinal são filmes antigos e que ainda, acredito, não foram restaurados. Mas o roteiro e os diálogos e os personagens valem uma aula para um aspirante a cineasta.
Está sendo repetitivo. Era para ser um novo post. Mas preferi continuar sem cortes. Ontem foi a vez de Deserto Feliz de Paulo Caldas estrear no Palácio. O filme, que participou de vários festivais internacionaise e ganhou seis Kikitos no Festival de Gramado, era aguardado com certa expectativa. O diretor Paulo Caldas fez estréia em longa com o filme Baile Perfumado que dirigiu ao lado de Lirio Ferreira. E mais tarde realizou O rap do pequeno príncipe contra as almas sebosas, um excelente documentário sobre a periferia de Recife. Caldas que faz parte do grupo de cineastas da chamada retomada, com um estilo ousado caiu no gosto do público jovem e cinéfilos. Porém o filme apresentado ontem, Deserto Feliz, apesar do cuidado estético e beleza visual desanima o espectador sedento por novidade. Ao apresentar o filme, Caldas citou um outro cineasta que descontruiu a idéia de que fazer cinema é glamuroso, tomando para si próprio essas palavras e deixando claro que esse é o seu objetivo ao fazer cinema e que queria mostrar para o público o lado real da sociedade.
A história: uma adolescente de 15 anos após ser violentada pelo padrasto resolve cair na vida se prostituindo(vale destacar o execelente trabalho da jovem atriz Nash Laila que está perfeita na pele da personagem), a menina vai para Recife e num lugar de prostituição conhece um alemão que a leva para Alemanha. A garota se fode. O filme é uma história de amor, vivida por uma prostituta menor de idade e por trás dessa história entra a crítica ou não, ao problema da prostituição infantil, e mais por trás ainda é desenvolvida a "história de apoio" sobre o tráfico de animais.
O cansativo e repetitivo é essa mesma história que foi tema no ano passado de três ou quatros filmes nacionais. Quando não é a favela, a periferia, é a prostituição infantil, o sertão. Não falo isso por não gostar desses temas. Muito pelo contrário, por me interessar já assisiti tantos filmes sobre, que hoje estou cansada. Falo isso por acreditar que cinema enquanto arte também é lugar da ousadia estética, da criatividade, de tramas bem boladas, da maneira como se conta, de literatura visual. E quando a gente entra numa sala de cinema e assiste a mesma história, contada a mais de quarenta anos pelo cinema nacional, a sensação de cansaço é imediata. Surgem questões do tipo, esse filme ajudará realmente alguma coisa no processo de mudança da sociedade? É necessário dez filmes sobre a mesma coisa, quanto mais melhor? Ou faltam roteiristas, criatividade e diversidade no cinema brasileiro?
Aí você entra numa sessão de meia-noite e assiste ao filme Ainda Orangutangos de Gustavo Spolidoro. Então, você sai do filme vendo uma luz no fim do túnel do cinema nacional e com algumas perguntas respondidas e o desejo de ver cinema saciado.
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