domingo, 30 de setembro de 2007

A nossa China

O país homenageado este ano pelo Festival é a China. Tenho investido bastante nos clássicos chineses da década de 30 e 40 que estão sendo exibidos nos cinemas da Caixa. Já assisti três filmes. Ontem fui assistir um de 1948. Conta a história de moradores de um prédio cujo proprietário é um alto funcionário do governo chinês. Estamos ao final da II Guerra. Os revolucionários de Mao avançam nas grandes cidades. Interessante observar como a China tinha problemas de corrupção, fome. Os governos que precederam a revolução praticavam a censura. Nunca houve liberdade de imprensa na China. Esses filmes nos permitem perspectivas históricas menos preconceituosas. Nesse tempos de macarthismo kameliano, os filmes chineses nos revelam um país que vinha sendo sistematicamente destruído, saqueado, humilhado, roubado, por ocidentais, de um lado, e pelos japoneses, de outro. Foi Mao-Tsé-Tung que colocou a China de pé e libertou-a do jugo estrangeiro. Os colossais erros do regime comunista não apagam a sua necessidade histórica. Olhando a China de hoje, crescendo a taxas espetaculares, produzindo uma classe média já superior numericamente a população inteira do Brasil, não podemos deixar de comparar o destino da China com de outras regiões do planeta, como oriente médio, África e América Central. O chinês de hoje tem orgulho de seu país. Os problemas de liberdade ainda são graves. Mas é diferente uma liberdade num país de 1,5 bilhão de habitantes do que a liberdade na Bélgica, com 6 milhões, ou mesmo na França, com 60 milhões.

Enfim, o importante é que esses filmes chineses, pré-revolucionários, já apontam, por parte da intelectualidade chinesa, uma sensibilidade social e política altamente avançada, e mostram problemas próximos também a nós, brasileiros, porque são problemas humanos, universais. A China também é nossa.

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Impressionante mesmo a polêmica criada pelo filme Tropa de Elite, de José Padilha. Hoje o Segundo Caderno do Globo traz uma análise geral da relação do cinema com ideologias, inconscientemente ou não por parte de diretores. O texto de Carlos Reichenbach é interessante, mas confuso e contraditório. Interessante porque cita muitos filmes e diretores, associando estes ou aqueles à "direita" ou "esquerda". Segundo Reichenbach, clássicos como Apocalipse Now (Coppola) e Taxi Driver (Scorcese), por exemplo, seriam de "direita", e mesmo assim são obras magníficas. Eisensten teria feito filmes sob encomenda para o governo comunista russo e mesmo assim revolucionou a sétima arte.

Enfim, tudo para dizer que Tropa de Elite é de direita, mas é bom. Discordo veementemente dessa interpretação chulé. Cinema é cinema. É uma obra de arte complexa que, naturalmente, comporta ideologias. Ingenuidade querer filmes completamente despidos de ideologia. Mas o que interessa num filme é o seu resultado estético. Uma boa obra de arte é sempre aberta, permitindo visões díspares e até contraditórias. Tropa de Elite é uma história contada sob o ponto-de-vista de um policial. Ponto final.

Reacionário? Prega a violência? AHAHAHAHA. Cara de pau dizer isso, diante da profusão de milhões de filmes holiwoodianos, exibidos diuturnamente pelos canais de tv aberta e nos cinemas, com muito mais violência gratuita. Sem contar os filminhos propaganda do exército americano, mostrando sempre árabes maus e americanos bonzinhos. Vou te contar uma coisa. Eu assisto tudo. Me divirto até com enlatado, mas sei muito bem o perigo que corro, assim como o faço quando bebo uma caipirinha.

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