O país homenageado este ano pelo Festival é a China. Tenho investido bastante nos clássicos chineses da década de 30 e 40 que estão sendo exibidos nos cinemas da Caixa. Já assisti três filmes. Ontem fui assistir um de 1948. Conta a história de moradores de um prédio cujo proprietário é um alto funcionário do governo chinês. Estamos ao final da II Guerra. Os revolucionários de Mao avançam nas grandes cidades. Interessante observar como a China tinha problemas de corrupção, fome. Os governos que precederam a revolução praticavam a censura. Nunca houve liberdade de imprensa na China. Esses filmes nos permitem perspectivas históricas menos preconceituosas. Nesse tempos de macarthismo kameliano, os filmes chineses nos revelam um país que vinha sendo sistematicamente destruído, saqueado, humilhado, roubado, por ocidentais, de um lado, e pelos japoneses, de outro. Foi Mao-Tsé-Tung que colocou a China de pé e libertou-a do jugo estrangeiro. Os colossais erros do regime comunista não apagam a sua necessidade histórica. Olhando a China de hoje, crescendo a taxas espetaculares, produzindo uma classe média já superior numericamente a população inteira do Brasil, não podemos deixar de comparar o destino da China com de outras regiões do planeta, como oriente médio, África e América Central. O chinês de hoje tem orgulho de seu país. Os problemas de liberdade ainda são graves. Mas é diferente uma liberdade num país de 1,5 bilhão de habitantes do que a liberdade na Bélgica, com 6 milhões, ou mesmo na França, com 60 milhões.
Enfim, o importante é que esses filmes chineses, pré-revolucionários, já apontam, por parte da intelectualidade chinesa, uma sensibilidade social e política altamente avançada, e mostram problemas próximos também a nós, brasileiros, porque são problemas humanos, universais. A China também é nossa.
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Impressionante mesmo a polêmica criada pelo filme Tropa de Elite, de José Padilha. Hoje o Segundo Caderno do Globo traz uma análise geral da relação do cinema com ideologias, inconscientemente ou não por parte de diretores. O texto de Carlos Reichenbach é interessante, mas confuso e contraditório. Interessante porque cita muitos filmes e diretores, associando estes ou aqueles à "direita" ou "esquerda". Segundo Reichenbach, clássicos como Apocalipse Now (Coppola) e Taxi Driver (Scorcese), por exemplo, seriam de "direita", e mesmo assim são obras magníficas. Eisensten teria feito filmes sob encomenda para o governo comunista russo e mesmo assim revolucionou a sétima arte.
Enfim, tudo para dizer que Tropa de Elite é de direita, mas é bom. Discordo veementemente dessa interpretação chulé. Cinema é cinema. É uma obra de arte complexa que, naturalmente, comporta ideologias. Ingenuidade querer filmes completamente despidos de ideologia. Mas o que interessa num filme é o seu resultado estético. Uma boa obra de arte é sempre aberta, permitindo visões díspares e até contraditórias. Tropa de Elite é uma história contada sob o ponto-de-vista de um policial. Ponto final.
Reacionário? Prega a violência? AHAHAHAHA. Cara de pau dizer isso, diante da profusão de milhões de filmes holiwoodianos, exibidos diuturnamente pelos canais de tv aberta e nos cinemas, com muito mais violência gratuita. Sem contar os filminhos propaganda do exército americano, mostrando sempre árabes maus e americanos bonzinhos. Vou te contar uma coisa. Eu assisto tudo. Me divirto até com enlatado, mas sei muito bem o perigo que corro, assim como o faço quando bebo uma caipirinha.
domingo, 30 de setembro de 2007
quinta-feira, 27 de setembro de 2007
Primeiro longa de Marcos Jorge não deu azia
Ao contrário, Marcos Jorge conseguiu produzir um excelente entretenimento, com pitadas de suspense. Em alguns momentos, os diálogos me pareceram artificiais, com palavrões ditos com ênfase exagerado, mas a trama envolvente abafam esses defeitos e apaixona o público.
Voluptuoso, com bastante ação, narrativa simples e contendo um interessante didatismo culinário, o filme promete despertar bastante interesse no Brasil. Não necessariamente no cinema, mas com certeza no DVD e na televisão.
O ator João Miguel, mais uma vez, assumiu uma grande responsabilidade. Sem ele não haveria Estômago. Assim como o levantar de sobrancelha do Bogart tornou-se uma das imagens mais expressivas de Holliwood nos anos 40 e 50, os trejeitos de Miguel já são patrimônio do cinema nacional.
Construindo a narrativa em dois tempos, mas de forma simples e linear, Jorge inventou um personagem tão marcante que não me espantaria se o filme tivesse uma continuação. Duvido, porém, que o autor tenha essa intenção.
A trilha sonora é boa e a participação especial de Paulo Miklos, impagável. O filme peca, repito, por uma certa leviandade nos diálogos e na interpretação dos atores. O roteiro, no entanto, é muito inteligente, com toques de terror e suspense contrastando com a voluptuosidade divertida das imagens, mostrando influência de Hitchcock.
Voluptuoso, com bastante ação, narrativa simples e contendo um interessante didatismo culinário, o filme promete despertar bastante interesse no Brasil. Não necessariamente no cinema, mas com certeza no DVD e na televisão.
O ator João Miguel, mais uma vez, assumiu uma grande responsabilidade. Sem ele não haveria Estômago. Assim como o levantar de sobrancelha do Bogart tornou-se uma das imagens mais expressivas de Holliwood nos anos 40 e 50, os trejeitos de Miguel já são patrimônio do cinema nacional.
Construindo a narrativa em dois tempos, mas de forma simples e linear, Jorge inventou um personagem tão marcante que não me espantaria se o filme tivesse uma continuação. Duvido, porém, que o autor tenha essa intenção.
A trilha sonora é boa e a participação especial de Paulo Miklos, impagável. O filme peca, repito, por uma certa leviandade nos diálogos e na interpretação dos atores. O roteiro, no entanto, é muito inteligente, com toques de terror e suspense contrastando com a voluptuosidade divertida das imagens, mostrando influência de Hitchcock.
domingo, 23 de setembro de 2007
Para sempre orangotangos
Ainda Orangotangos, de Gustavo Spolidoro, merece um brinde especial. Pela honestidade, pela técnica, pela trilha sonora, pela maestria em costurar tantas histórias sem se confundir, ou melhor, produzindo uma confusão belíssima, portoalegrense, cosmopolita, universal. Coroa e junkie rolam no tapete da sala, cheios de vida, amor, eufóricos de liberdade, bebendo perfume. Gordo psicótico aborda senhor de bengala, forçando-o a segurar enorme maço de papéis - originais de seu livro. Isso é lixo, diz o velho, que é convidado para festinha de quinze anos, onde se desenrola cena inusitada: homem portando granada ameaça a todos e grita para a aniversariante. JÁ ESQUECEU QUEM TIROU SEU CABACINHO!
Baseado em contos de Paulo Scott, o primeiro longa-metragem de Spolidoro mostra uma Porto Alegre viril, trágica e esquizofrênica. Uma panela de pressão no interior da qual fervem ambição, gênio, violência e japoneses desesperados. Mas, bah!, o feijão é muito bom. É brasileiro, guria. Tribrasileiro.
Baseado em contos de Paulo Scott, o primeiro longa-metragem de Spolidoro mostra uma Porto Alegre viril, trágica e esquizofrênica. Uma panela de pressão no interior da qual fervem ambição, gênio, violência e japoneses desesperados. Mas, bah!, o feijão é muito bom. É brasileiro, guria. Tribrasileiro.
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sábado, 22 de setembro de 2007
Manual para estragar bons livros
Em Nome Próprio, o diretor conseguiu pegar os bons textos de Clarah Averbuck e fazer um pastelão tosco e gaguejante. Os diálogos fracos se conjugam com uma fotografia enjoada e uma trilha sonora debilóide. O recurso de aplicar textos à tela poderia ser interessante se Murillo Salles se preocupasse, no mínimo, em não parecer um estudante de primeiro período experimentando novo software.
Leandra Leal não convence como bebedora de vodka, mas tem o mérito das únicas coisas boas do filme. A cena do escândalo no bar, o surto de bolinha no prédio, a transa com o rapaz de Ribeirão Preto, entre outras, são excelentes. O trabalho de corpo da atriz, que emagreceu bastante, também merece elogios.
Cito outras qualidades. A captação de som ficou boa. Cada gesto, mesmo os mais ínfimos, tem o som hiper-ampliado, conferindo-lhe um peso diferente. Esse minimalismo pareceu-me sagaz e coerente com a proposta da história.
O que me pareceu mais triste, porém, foi o profundo desacerto entre a vitalidade explosiva dos textos originais, e o formato cansado, senil, do filme. Não fosse Leandra Leal uma atriz com imenso poder de atração midiática, a obra ficaria alijada completamente do público jovem.
Leandra Leal não convence como bebedora de vodka, mas tem o mérito das únicas coisas boas do filme. A cena do escândalo no bar, o surto de bolinha no prédio, a transa com o rapaz de Ribeirão Preto, entre outras, são excelentes. O trabalho de corpo da atriz, que emagreceu bastante, também merece elogios.
Cito outras qualidades. A captação de som ficou boa. Cada gesto, mesmo os mais ínfimos, tem o som hiper-ampliado, conferindo-lhe um peso diferente. Esse minimalismo pareceu-me sagaz e coerente com a proposta da história.
O que me pareceu mais triste, porém, foi o profundo desacerto entre a vitalidade explosiva dos textos originais, e o formato cansado, senil, do filme. Não fosse Leandra Leal uma atriz com imenso poder de atração midiática, a obra ficaria alijada completamente do público jovem.
Contradições e pirataria
"É uma tristeza. Intelectuais, jornalistas e acadêmicos estão fazendo debate em cima de um filme pirata. É muito estranha a ética brasileira."
A frase acima, publicada em matéria da CartaCapital de 12 de setembro, é de Marcos Prado, produtor do primeiro filme nacional a ter vazado – primeiro nas ruas do centro do Rio de Janeiro e na internet – antes de sua estréia oficial, que seria em novembro, agora antecipada para 12 de outubro.
Não bastasse isso, Tropa de elite é um dos longas mais caros já produzidos no Brasil, com orçamento de R$ 10,5 milhões. Trata do espinhoso e nunca esgotado tema da guerra particular que o Rio de Janeiro observa com medo e uma grande carga de preconceito nos últimos 30 anos, entre a polícia e o narcotráfico. A situação afeta diariamente os moradores das regiões onde ocorrem os conflitos, respingando no asfalto e na classe média, que então aproveita para espernear, clamar por "justiça" e fazer passeatas vestida de branco na orla valorizada de Leblon e Ipanema, sempre bem registradas pela mídia.
Triste e estranho não é o debate que se faz sobre um fato consumado. Se a ordem da indústria cultural vem sendo subvertida há alguns anos com o avanço das novas tecnologias, é preciso analisá-las e debatê-las, em vez de simplesmente fingir que não existem e tratá-las como caso de polícia – e de cadeia. Triste e estranho seria tocar no assunto somente após o filme chegar às telonas.
Continue lendo o texto no Portal Literal.
A frase acima, publicada em matéria da CartaCapital de 12 de setembro, é de Marcos Prado, produtor do primeiro filme nacional a ter vazado – primeiro nas ruas do centro do Rio de Janeiro e na internet – antes de sua estréia oficial, que seria em novembro, agora antecipada para 12 de outubro.
Não bastasse isso, Tropa de elite é um dos longas mais caros já produzidos no Brasil, com orçamento de R$ 10,5 milhões. Trata do espinhoso e nunca esgotado tema da guerra particular que o Rio de Janeiro observa com medo e uma grande carga de preconceito nos últimos 30 anos, entre a polícia e o narcotráfico. A situação afeta diariamente os moradores das regiões onde ocorrem os conflitos, respingando no asfalto e na classe média, que então aproveita para espernear, clamar por "justiça" e fazer passeatas vestida de branco na orla valorizada de Leblon e Ipanema, sempre bem registradas pela mídia.
Triste e estranho não é o debate que se faz sobre um fato consumado. Se a ordem da indústria cultural vem sendo subvertida há alguns anos com o avanço das novas tecnologias, é preciso analisá-las e debatê-las, em vez de simplesmente fingir que não existem e tratá-las como caso de polícia – e de cadeia. Triste e estranho seria tocar no assunto somente após o filme chegar às telonas.
Continue lendo o texto no Portal Literal.
sexta-feira, 21 de setembro de 2007
Polêmicas em torno de Tropa de Elite
A polêmica é o tempero do gênio. Tudo que é novo, belo ou grotesco, causa estranheza. Caso do filme Tropa de Elite, de José Padilha. O formato não traz inovação estética, o conteúdo sim. Não por mostrar a classe média como vilã, mas pela franqueza brutal com que o faz. O pessoal da PUC não gostou. E daí? Os moradores da Cidade de Deus também não gostaram do longa de Fernando Meirelles.
Há realmente um maniqueísmo exagerado, caricatural, e uma certa falta de sensibilidade na descrição dos estudantes maconheiros. Mas a cena do policial espancando o rapaz participando da passeata pela paz lavou a alma de muita gente, irritada com a hipocrisia de manifestações desse tipo. O cinema, assim como a literatura, vive de maus sentimentos.
O ritmo envolvente, linear, explicativo, exibe a tatuagem da escola criada com City of Gods, e o fato de ter se tornado o maior fenômeno pirata da história recente conferiu-lhe uma belíssima medalha de autenticidade popular. O povo quer ver o filme. As pessoas querem ver o filme. Eu vi um piratão. Qual o sentido desse repentino surto moralista e anti-progressista de setores da opinião pública. O filme está sendo visto por milhões de pessoas, gerando receita e empregos no comércio ambulante. Se a tecnologia moderna torna possível a cópia, o camelô é um criminoso?
A última pesquisa do Pnad revela que 96% dos lares brasileiros tem televisão e uns 40% tem dvd. Mas somente 7% das cidades possuem cinema. OU SEJA. Tem que oferecer o cinema em dvd. A maioria esmagadora da população brasileira tem acesso ao cinema através dos filmes exibidos na tv. Os filmes brasileiros são todos patrocinados pela Petrobrás, estatais, ou por renúncia fiscal do governo federal. O povo paga por esses filmes. É honesto que tenham a possibilidade de assisti-los a custo mais acessível e com mais rapidez.
Wagner Moura, no papel do oficial do Bope, está perfeito. Moura tem se revelado, na minha opinião, o grande ator da contemporaneidade, enquanto seu amigo Lázaro Ramos, de uns tempos para cá, tem repetido sempre o mesmo papel. O personagem do Homem que Copiava parece ter dominado a alma do ator, sempre com a mesma expressão. Tá parecendo a versão preta e magra do Shuásnégger.
Há realmente um maniqueísmo exagerado, caricatural, e uma certa falta de sensibilidade na descrição dos estudantes maconheiros. Mas a cena do policial espancando o rapaz participando da passeata pela paz lavou a alma de muita gente, irritada com a hipocrisia de manifestações desse tipo. O cinema, assim como a literatura, vive de maus sentimentos.
O ritmo envolvente, linear, explicativo, exibe a tatuagem da escola criada com City of Gods, e o fato de ter se tornado o maior fenômeno pirata da história recente conferiu-lhe uma belíssima medalha de autenticidade popular. O povo quer ver o filme. As pessoas querem ver o filme. Eu vi um piratão. Qual o sentido desse repentino surto moralista e anti-progressista de setores da opinião pública. O filme está sendo visto por milhões de pessoas, gerando receita e empregos no comércio ambulante. Se a tecnologia moderna torna possível a cópia, o camelô é um criminoso?
A última pesquisa do Pnad revela que 96% dos lares brasileiros tem televisão e uns 40% tem dvd. Mas somente 7% das cidades possuem cinema. OU SEJA. Tem que oferecer o cinema em dvd. A maioria esmagadora da população brasileira tem acesso ao cinema através dos filmes exibidos na tv. Os filmes brasileiros são todos patrocinados pela Petrobrás, estatais, ou por renúncia fiscal do governo federal. O povo paga por esses filmes. É honesto que tenham a possibilidade de assisti-los a custo mais acessível e com mais rapidez.
Wagner Moura, no papel do oficial do Bope, está perfeito. Moura tem se revelado, na minha opinião, o grande ator da contemporaneidade, enquanto seu amigo Lázaro Ramos, de uns tempos para cá, tem repetido sempre o mesmo papel. O personagem do Homem que Copiava parece ter dominado a alma do ator, sempre com a mesma expressão. Tá parecendo a versão preta e magra do Shuásnégger.
Luz e ação!
Começou ontem o Festival de Cinema do Rio 2007. O filme que abriu o Festival foi o tão esperado Tropa de Elite de José Padilha. Tropa de Elite segue a linha narrativa e estética de Cidede de Deus. Ao assistir o Tropa de Elite você entende porque o filme caiu no gosto popular. É um filme de ação e que te deixa ligadão até o fim. Nas duas sessões lotadas da noite de ontem, uma no Odeon e outra no Palácio, dava para ouvir as manifestações da platéia no decorrer da projeção. Isso é muito bacana.
O filme ao que me pareceu, não toma partido nem da polícia, nem dos bandidos, nem do Bope. O objetivo dele é apresentar o que acontece nos vários mundos do crime. O assunto principal é o crime e como e onde ele se desenrola. Seja na favela, no quartel ou na Puc.
Talvez a maior ousadia do longa, não tenha sido as críticas feitas ao organismo Polícia. Mas sim, a crítica aos playboys que sustentam o tráfico com o próprio vício e que também agem como traficantes no asfalto.
O filme não é perfeito. Não é um filme que entrará para história dos clássicos do cinema. Mas é um filme de entrenimento bastante elevado e com o mérito de ter conseguido fazer o Cinema brasileiro bombar no mundo periférico.
O filme ao que me pareceu, não toma partido nem da polícia, nem dos bandidos, nem do Bope. O objetivo dele é apresentar o que acontece nos vários mundos do crime. O assunto principal é o crime e como e onde ele se desenrola. Seja na favela, no quartel ou na Puc.
Talvez a maior ousadia do longa, não tenha sido as críticas feitas ao organismo Polícia. Mas sim, a crítica aos playboys que sustentam o tráfico com o próprio vício e que também agem como traficantes no asfalto.
O filme não é perfeito. Não é um filme que entrará para história dos clássicos do cinema. Mas é um filme de entrenimento bastante elevado e com o mérito de ter conseguido fazer o Cinema brasileiro bombar no mundo periférico.
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